Trânsito. As ruas e calçadas da cidade se transformaram em espaços de passagem ligeira. Fachadas anunciam fantasias de consumo, muros e grades definem o que é público ou privado. Câmeras inibem o comportamento espontâneo em nome de uma segurança ilusória e, à noite, a iluminação ofuscante repele qualquer público que ousaria prolongar um encontro.
O cotidiano automatizado e frenético da sociedade contemporânea, que vem gradativamente substituindo os valores humanos pelos valores financeiros, costuma atordoar o cidadão comum. Embriagado pelo excesso de imagens, ruídos, burocracias e idéias pasteurizadas, ele deixa de perceber os mecanismos de funcionamento da cidade e acaba por se desvincular desse importante espaço social, alienando-se.
Mas a cidade foi feita para as pessoas, acima de tudo. E continua sendo feita a cada dia, considerando que ela não é algo estático e pré-determinado, mas um organismo vivo, em constante transformação.
Compreender a dinâmica e a complexidade do espaço urbano é essencial para que o indivíduo supere seu papel passivo de mero espectador-consumidor e passe a exercer uma cidadania ativa, como transformador social.
Nesse contexto, proponho uma reflexão sobre a influência que a arte no espaço público exerce na configuração da cidade contemporânea, considerando aqui tanto a arte que se serve da cidade como suporte, como aquela que considera a cidade integrante do próprio objeto artístico.
As intervenções de arte no espaço público criam ambientes de reflexão e experimentação que estimulam o cidadão a interpretar a cidade e criar significados.
No espaço urbano, a natureza da arte se revela não apenas a um público selecionado, como acontece em museus e galerias, mas a uma diversidade de pessoas que se encontram ali passando, trabalhando, observando, dormindo, morando e que, por um instante, são absorvidas pela experiência artística.
O alcance dessa experiência é ainda potencializado se considerarmos que, além da incrível diversidade de público, temos um ambiente heterogêneo e imprevisível que transforma as ações ali realizadas em acontecimentos únicos e originais, reforçando a criação de uma identidade local e a noção de pertencimento.
O indivíduo, agora reincorporado à cidade, passa a se apropriar dos espaços e se torna capaz de criar novas formas de pensar e agir, adentrando assim no ciclo de reinvenção da cidade.