A obra de arte e o espectador

O espaço expositivo hoje é uma das peças-chaves para o diálogo entre obra e espectador, mas será possível separar essa obra desse espaço?

Quando o artista gera seu filho e o faz nascer, ele o doa para o mundo, logo não está mais no seu controle. A obra é uma afirmação que só se revela quando abandonada pelo artista entre uma relação espaço-tempo, surgindo não apenas da experiência perceptiva e intelectual do sujeito espectador, mas uma totalidade dessa experimentação, no espaço de ambos habitado.

Uma extensão da obra de arte, que podemos chamar de fruição, é interferida muitas vezes pela organização do “inocente” cubo branco, tal organização que hoje está nas mãos de um personagem chamado curador. É ele que tem o poder de escolha, entre elas: o caminho que o público vai percorrer na sala, posicionar obra “X” ao lado da obra “Y”, entre o espaço “Z”– escolhas de grande importância para a leitura de conceitos que surgem na elaboração de sua totalidade: nesta situação o espaço é também parte da obra de arte. Pois, a disposição espacial, a iluminação, a ambientação, suas cores e significados, funcionam como recursos para essa fruição.

Tendo em vista isso, as experiências causadas pela obra e pelo espaço que ela é exposta são fenômenos que devem ser pensados pelo artista ou projetado por curadores?

A obra/exposição deve proporcionar não só uma experiência estética, mas transmitir em uma totalidade a intenção da proposta do artista, ou por vezes do próprio curador.

Essa obra/exposição pode dar a vida a um artista ou levá-lo à morte. Muitas vezes há uma potência tão grande na obra, que ela sozinha ocupa uma parede toda, outras ela só terá sentido ao lado de outra.

A preocupação aqui é a vivência artística, e até que ponto o curador tem a liberdade de interferir na relação obra-público.

Segundo um poeta, “A imaginação e a natureza estariam para a arte como as palavras e o dicionário estão para a poesia”, então não caberia ao poeta nem ao artista, seguro de seus propósitos, copiar todas as palavras do dicionário ou todos os elementos da natureza, mas utilizá-los conforme suas convicções. Quando alguém faz isso por ele não estaria criando outra obra sobre a obra exposta do artista?

A importância desse processo intitulado hoje como curatorial, está na obra apresentada nas exposições, que passa assumir um papel importante com o público que troca um olhar representativo/renascentista por outro tipo de proposta, a reflexão.

O espaço expositivo, sobretudo, tem o papel de facilitar a compreensão do público, e não criar interferências nesse diálogo entre a obra e o espectador.

Entendo, assim, a importância do espaço expositivo como projeto artístico, que cria uma ponte entre obra e espectador para uma melhor reflexão sobre a obra.


Israel Munhoz
Artista Visual
israel.merz@gmail.com.br

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