– O que é arte?
Muitos se propuseram e propõem-se a responder tal questão. Eu não me arrisco. Apesar de ser tão difícil colocá-la dentro dos limites das palavras atrelando à ela definições, acredito que ao menos parte da resposta mora em outras perguntas como: “para que ela serve?” ou “o que ela faz conosco?”. Tais perguntas pulsam nas entrelinhas deste texto, e são o motivo de ser do mesmo.
A arte pode ter como papel a função de linguagem. Uma linguagem muito diferente da oral ou da escrita, sim. Muito mais figurativa, menos rígida, muito mais suscetível a interpretações, leituras e percepções. Se considerarmos a linguagem como a expressão dos sentimentos, pensamentos e ideias, suas diversas formas terão suas próprias particularidades não desmerecendo a sua essência ou o seu propósito.
Tomando esse aspecto da arte em conta, pode-se dizer que ela tem como objetivo comunicar, dizer algo, dividir alguma coisa. Entretanto, acredito que de forma geral, a arte como enunciadora não recebe tanta atenção, simpatia ou tentativa de compreensão. A razão pode ser a nebulosa motivação: o que a arte vai me dar?
Existe o mal-entendido (cultural): arte é “produto” para elite. Existe a preliminar: a arte só pode dar (algo) a quem é dotado de conhecimento para receber. Ambos os pensamentos têm sua carga de verdade, mas não são, em si, verdades absolutas. Apesar de complexos e diversos problemas socioculturais distanciarem as classes sociais menos privilegiadas (incluindo a classe média), eles não impedem a experiência do sujeito com o objeto de arte; não são eles que constroem a barreira – é o próprio público. A questão do conhecimento prévio e do repertório que cada um leva (dentro de si) ao espaço expositivo implica, sim, em sua experiência estética. Mas, a falta de ambos não reduz à possibilidade de experiência a zero.
Volto então à pergunta: o que a arte faz conosco? E acredito que esse questionamento pode ser facilmente entendido como “O que a arte vai me dar?”. A arte – assim como o artista – não tem obrigação com uma única forma de sensibilizar ou comunicar. A arte não tem obrigação de dar ou contribuir, porque a arte não é funcional. Mas a arte, sendo fruto de produção humana, herda de sua origem a capacidade de relacionar e de doar. Diante disso, é coerente uma postura hedonista (por assim dizer) motivar a busca pela experiência estética.
A arte, por meio da experiência estética do sujeito com o objeto da arte, pode dar a oportunidade de parar para pensar no mundo, seus problemas e questões; a oportunidade de estar imerso no silêncio do “cubo branco” e usar esse “espaço paralelo” de forma singular, particular; a alegria de “decodificar” a mensagem do artista; a possibilidade de encontrar respostas e sentidos pessoais para cada cor, forma, imagem; a chance de socializar, dividir ideias, produzir “cultura”, fomentar questionamentos e reflexão; aflorar sentimentos; trazer à tona memórias; causar a fruição, o desfrute da experiência.
Vantagens à luz; oportunidades e possibilidades destacadas aqui. A arte espera. O que podemos dar em troca?
Lis del Barco
Artista Visual e Designer
lisdelbarco@gmail.com
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