Uma revolução dos sentidos e da razão acontecerá a partir do momento que, lucidamente, se rejeite a noção burguesa de arte e se crie novas possibilidades de relações entre os homens, e onde a arte se encontre incorporada no dia a dia, como ação de vida = uma síntese do ato artístico e do ato banal. Como no caso do Felipe (1), que coloca a conversa como objeto, mas um objeto descolado do seu sentido formal (há uma invisibilidade na proposição), dentro de um sistema de relação e ação, objetivando uma consciência por meio da fala e da ocupação no espaço, que pode ser no ambiente proposto (solar do barão) ou em qualquer outro onde a conversa a respeito da experiência-projeto for ativada.
Fez e faz muito sentido aquela conversa, a proposição do Felipe, toda a sua fala (2), e acho que nesse lugar (do aconchego de uma conversa) é possível um descondicionamento, uma desmistificação do lugar da arte e principalmente, do famigerado objeto, do entendimento da arte enquanto prática, comportamento e discussão. a conversa continuou em outro lugar, outros dias, levantou questões, sensações que só o silencio pôde responder, e enfim, um conforto de que a prática de outros ampliam e falam à minha.
Estive lendo Kaprow e ele fala sobre o novo trabalho como a não-arte que emerge com humor, onde o artista, que não revela sua origem (( a arte )) jamais abandona a idéia de, mas que se insere no mundo do trabalho cotidiano (contador, ecologista, faxineiro), podendo operar em diferentes contextos do que os usuais do mundo da arte, até que a arte seja eliminada pela própria vida. “Uma percepção tão aguda assim em meio aos artistas permite que todo o mundo e sua humanidade sejam experimentados como um trabalho de arte.” (3)
Aí entendo que para o artista contemporâneo se torna essencial recusar a magnificência do título, para que as fronteiras entre a vida e a arte sejam diluídas, até que um ir e vir entre um e outro sendo um no outro se torne uma atividade fluida, resultando num entendimento do espaço/produção da arte como uma mudança comportamental que explora sensações individuais e coletivas, e onde, segundo Oiticica, o processo da arte influencie o “ser social” em um “(...) processo na sociedade como um todo, na vida prática, no mundo objetivo de ser, na vivência subjetiva – seria a vontade de uma posição inteira, social no seu mais nobre sentido, livre e total. O que interessa é o ‘ato total de ser’ (...) – não atos parciais totais, mas um ‘ato total de vida’, irreversível, o desequilíbrio para o equilíbrio do ser” (4), já que uma vivencia na arte não se resume a uma experiência estética, mas à incorporação da obra nos atos. Se é a sensação e o pensamento que unidos conformam uma genuína compreensão e interpretação (5) da obra, é na busca de uma totalidade através de uma educação dos sentidos (6) que será possível manifestar a potencia criadora e a arte na vida diária.
(1) Prando, CONVERSAS, Projeto paisagem : fronteira, Solar do Barão, 2011.
(2) a de Regina Melim, Solar do Barão, Conversa 2. 17/03/11
(3) Allan Kaprow, A educação do an-artista, Parte I (1971), Concinnitas, RJ, 2003.
(4) Hélio Oiticica, Aspiro ao Grande Labirinto, 1986.
(5) Susan Sontag
(6) Friedrich Schiller
*O título é uma frase de Hélio Oiticica.
MFQ
Tem múltiplas personalidades e prefere não se identificar
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