O sonho de toda menina é ganhar uma Barbie. Quando a ganha fica admirada com aquela boneca linda, com longos cabelos loiros, olhos azuis, um sorriso singelo nos lábios, cintura fina, esteticamente perfeita em sua caixa de papel cor-de-rosa. Aliás, rosa é cor de menina e azul é de menino.
Desde muito cedo somos condicionados a um determinado padrão de beleza, mesmo vendo em nossa casa, na rua e até mesmo no espelho, padrões distintos, nos acostumamos ao padrão recomendado pela mídia, que muitas vezes é cobrado pela sociedade. Visitando a exposição Possíveis Conexões II, realizada no Museu de Arte Contemporânea do Paraná, em Curitiba, deparei-me mais uma vez com essas questões.
Ao ver Reflexo, obra de Eliane Athanasio (um díptico de espelhos), pensei: será que me vejo realmente no que vejo? Esse reflexo de minha imagem fracionada tanto pelos espelhos quanto pelas bordas me induziu a repensar a imagem, seus reflexos e as percepções interna e externa. Olhar-se no espelho de casa é muito diferente da experiência de ver sua imagem refletida em um museu, mesmo que este ambiente lhe pareça familiar. Vi minha figura adentrando a sala e ao mesmo tempo sendo fracionada e refletida, multiplicando minha imagem no espaço. Muitas em um só corpo, em uma só figura, e, assim, representando o sujeito de Stuart Hall. No mundo real “represento” diversos personagens, como a amiga, a filha, a irmã, a estudante,
a cliente, a pedestre, a heroína e, por que não, a princesa ou até mesmo a boneca.
Olhar sua imagem é algo muito comum, mas será que o que vemos sofre alguma interferência ou ruído? É assim no trabalho de Vanessa dos Santos R. Navarro, que produz duas imagens, ambas (uma feminina e uma masculina) admiram sua imagem refletida, porém este reflexo se dá através de um ruído. Este ruído foi feito em xilogravura sobre imagens de pinturas renascentistas. Eis que surge uma nova questão: Mas e os ruídos do mundo real, se dão de que forma?
O que realmente despertou meu interesse ao entrar no museu foi a caixa da “Barbie tudo que você quer ser”. Sim, nós crescemos acreditando em princesas e tendo como referência a Barbie. Mesmo que inconscientemente (ou não), nós, mulheres, iniciamos uma busca incessante por uma aparência artificial e surreal de uma boneca de plástico. Acredito que era esse o gostinho que Camila Boneaux queria proporcionar ao visitarmos a exposição, permitir que toda mulher por alguns segundos pudesse ser vista e tivesse a perspectiva da “Barbie”. Porém, a caixa da boneca do mundo real é feita de tapume, pois está sujeita a sol, à chuva e algumas vezes a ser apedrejada.
Afinal, será que é boa a visão de mundo de dentro da caixa cor-de-rosa?
ELLEN NASCIMENTO
ELLEN NASCIMENTO
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