A noção de campo para o sociólogo Pierre Bourdieu refere-se às interações dos indivíduos dentro de um espaço social, considerando a dinâmica das peculiaridades, singularidades e universalidades presentes nas relações de reciprocidade entre os mesmos.
As escolhas, as ações, as tomadas de posição dos sujeitos dentro dos campos da vida espelham um determinado conteúdo social, o qual indica o recorte destes acerca da relação entre indivíduo e sociedade. Um campo produz compreensões específicas sobre a realidade, o que não significa que a sua produção sociocultural, no seu conjunto, também não esteja comunicando, construindo, reafirmando valores e princípios comuns aos demais campos.
Pensando a experiência do indivíduo enquanto material e molde de sua elaboração de entendimentos sobre o mundo e as coisas, a mesma não pode ficar refém de obstáculos derivados das particularidades de um determinado campo.
Logo, tendo em vista que há valores macro que organizam a lógica comum a todos os campos, e que são os valores democráticos que norteiam a nossa vida social, então, não cabe o argumento de que a arte não é realmente para todos.
De fato, um indivíduo pode não encontrar sentido e satisfação na experiência estética, pode não gostar de arte, assim como nem todos gostam de esporte, política ou religião. Mas, do ponto de vista democrático, tal postura deve ser resultado de um juízo construído através de oportunidades de vivência da experiência estética, e não de processos excludentes e da ausência da mesma.
Nesse sentido, portanto, o reconhecimento das singularidades do campo da arte, não pode, de modo algum, subsidiar discursos e práticas que reforçam um certo elitismo, o qual defende que a arte deva ser apenas para os seus. Pois a arte e a experiência estética estão em um lugar pelo qual constrói-se, amplia-se e refina-se percepções e compreensões, instigando e suscitando a produção de subjetividades, de modo que muito contribuem no processo de humanização.
Sendo assim, a oportunidade de vivência da experiência estética deve ser para todos, e a partir disso a escolha de cada um por melhor conhecer (ou não) a lógica, as questões, os fundamentos, as possibilidades, as especificidades e a dinâmica desse campo da vida.
SERAFINA FLORES
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