Acontece que o artista está sujeito e dependente de demandas que não dizem respeito apenas à formação do caráter artístico de suas produções, mas também a muitas outras que ao longo do tempo se criam para transformar o trabalho concebido dentro do imaginário em algo palpável e autêntico.
Obviamente esse não é um sistema que facilita ao artista a apresentação e tampouco a representação do seu trabalho para os demais. A ação artística envolve, é claro, a necessidade de se fazer entender no momento em que a mensagem é lançada ao receptor, e existe a intenção de causar sensações, despertar mundos interiores, emergir ideias, despertar percepções, etc.
Com todo um percurso nebuloso a percorrer, os artistas que são reconhecidos de maneira mais significativa, tanto em termos culturais como de mercado, são consagrados de maneira quase aleatória pela junção de fatores que não estão ligados à sua produção artística. Esses artistas são elevados a patamares que nem sempre provém de uma análise consistente de seu trabalho. São reconhecidos como cânones talvez até mesmo antes de eles próprios se reconhecerem como artistas.
Cânones nem sempre obtém o mesmo prestígio entre colegas. A razão de maior destaque para tanto está no fato de esses cânones utilizarem-se da repetição de técnica mascarando-a como numa construção de um estilo sólido. Essa fina linha, uma membrana, que separa os sinais primeiros da criação de uma identidade que acaba por se tornar um estereótipo.
Por outro lado, existe consolidação que advém de aprofundamento de pesquisa e apuro de técnica que alcança o reconhecimento e o prestígio em carregar o estigma de arte “cansada” e/ou repetitiva.
Um artista que pode ser citado com um exemplo, pois se viu encaixado em diferentes momentos de sua vida nessas duas vertentes, é o pintor, de origem russa, Marc Chagall (1887- 1985) que durante os últimos anos de sua vida artística confessou ter caído nas amarras da repetição automática.
Durante todas as décadas de produção de seus quadros, Chagall construiu uma identidade de cores e traços que fazem seus quadros terem uma fácil identificação e, ainda assim, guardarem uma unidade de estilo única de cada obra.
Esse texto não tem a pretensão de apontar maneiras, identificar padrões ou de determinar qualquer tipo de resolução. A intenção é aproximar mais o artista do humano e refletir sobre a produção que se dá de modo orgânico e criativo, e acaba sendo diluída dentro dos tonéis de exigências de mercado e outras confusões.
GREYCE BRUNA FARIAS
GREYCE BRUNA FARIAS
Um comentário:
Interessante o tema desse texto! A repetição de estilos por um artista realmente torna o trabalho monótono. Mas acho que até certo ponto. Em uma analogia com a música, gosto de bandas que se mantém no mesmo estilo há décadas. Não gostaria de ouvir bob marley tocando um rock por exemplo. "o coração nunca cansa da canção", e acho que isso acontece também com o estilo de um artista gráfico que admiramos. Às vezes o cara tenta inovar e não consegue com a mesma competência. A gente pensa que o cara tá se repetindo no estilo por questões mercadológicas, quanto muitas vezes ele pode simplesmente não ter ainda repertório ou técnica suficientes para inovar. E quando não tenta no momento certo, aí sim, pode parecer por obrigação marqueteira!
Parabéns pelo texto, abraço
Renato Calliari
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