A fotografia, como forma de captura de imagens reais e estratégia de documentação, muito seduziu pela hipótese de possuir em si uma “maior verdade e eficácia” na reprodução do real. Uma vez que o seu aparato mecânico permite que as imagens geradas sejam produzidas com grande e acentuadas facilidade, rapidez e fidelidade visual descritiva. Contudo, há questionamentos sobre este aspecto de cópia e espelho do real, a ela atribuído.
No âmbito das Artes Visuais, questões relacionadas à subjetividade como elemento e conteúdo poético da prática fotográfica enquanto linguagem artística, bem como de seus efeitos, resultados e produtos derivados, tornaram-se objetos de debate.
Phillipe Dubois apresenta o processo de transposição e transformação que constrói a imagem fotográfica, no qual a tradução e interpretação sensível e cognitiva do indivíduo que a produziu, elabora e constrói discursos e narrativas visuais. A fotografia, então, seria um recorte carregado de subjetividade e simbolismo daquilo que o olho vê, um registro visual de uma ideia, uma imagem-ato, um ato performático.
Pensando nas escolhas poéticas que primam por um exercício visual desprovido de narratividade na abordagem das questões formais e específicas do campo da Arte, tais escolhas publicizam e dão acesso a elementos da visão de mundo do artista, sobre o lugar e papel que ele está conferindo à Arte, logo, um eloqüente discurso se faz presente, operando o conteúdo do sensível.
O filósofo Ernest Cassirer argumenta que os indivíduos não recebem passivamente as impressões daquilo que está na dimensão do sensível. Tais impressões são apreendidas, filtradas e racionalizadas pelas faculdades humanas, processo esse que as transformam em conteúdos simbólicos. E, que as imagens e signos, seriam expressões do sensível que permitem aos indivíduos determinarem e fixarem o particular na consciência, diante dos fenômenos que se sucedem e seguem no tempo e integram a dinâmica sociocultural.
À luz destas questões, cada imagem fotográfica se constitui como um espaço, no qual percepções, entendimentos e temporalidades de várias ordens se coadunam compondo um assertivo discurso simbólico, o que permite a apreensão da dimensão cultural dos seus objetos, produtos, processos, procedimentos e resultados estéticos.
Serafina Flores
Artista e Cientista Social
serafinaflores@hotmail.com
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