Vazio como lugar de expansão da criação da obra de arte

Qual é a origem do Universo? Não há especialista na área que não tenha tentado dar resposta. Os cientistas procuram elaborar sofisticadas teorias: O “Big-Bang” talvez? Sabe-se que antes da “grande explosão”, havia algo sobre o vazio, presença de partículas, denominadas quarks e glúons, mas não é uma conclusão definitiva. Se, antes da existência do universo havia estes pequenos elementos “soltos”, e que por um momento se comprimiram, o resultado foi de uma grande explosão, de onde iniciou uma expansão que hoje definimos como universo.

Será que a criação da arte não é análoga a isso? A matéria esta ali, “solta” no nosso espaço comum do mundo. E, de repente esta matéria é vista e modificada, unida a outra e passa a configurar um novo espaço em expansão, o universo da obra de arte. Mas o que faz do vazio a matéria virar de fato uma obra de arte? Necessidade humana em uma utopia materializada?

O vazio é a ausência, é desejo pelo cheio, é a privação daquilo que desejaríamos observar, e é da condição do ser humano ficar incomodado com essa inexistência, e buscar algo que possa substituir o desejo do insatisfeito. Com o artista isso não é diferente, ele sente a necessidade de condicionar o observador a uma nova sensação com a arte, construindo algo com materiais de seu “meio”, utilizando-se da interferência para dar razão aos conhecimentos sobre a realidade do homem.

E a arte é a manifestação do que ainda não existe, é construir, é conhecer, é exprimir, é a concretização do impossível, é dar a vida a formas do que é oculto. Cabe ao artista transformar e organizar “algo” sobre o tempo e o espaço, dar um significado ao objeto, é o sentimento humano transformado em algo material, se ele não chegar a seu objetivo, nunca chegou a ser arte.

O artista é como um poeta, só que dá forma, observa na inexistência possibilidades e significados para uma funcionalidade de sua futura obra, passa por um processo de criação artística, briga com o vazio. Como em um estado de inércia da criação isola-se, dá uma nova razão ao imaterial, passa pelo momento gestacional de suas ideias, adiciona e extrai, elabora, reflete, guia-se pelos conceitos estéticos. Por um momento passa a ter dúvida do caminho escolhido, observa o seu trabalho ganhando silenciosamente um novo corpo sobre o vazio, sente pulsá-la, excita-se, tem o prazer mesmo que por um breve momento de se sentir onipotente como “O Criador”, só que de um novo universo a ser explorado e compreendido, expõe, tem convicção que não terá mais o domínio de seu trabalho, pois este agora se expande como o universo para o “Ad infinitum”, faz do observador o seu cúmplice, propõe um novo modo de observar e pensar ao expectador. O encanto com arte é isso, criar uma expectativa ou repulsa, a arte é democrática, é como o vazio que não tem controle sobre ela mesma, e nem uma verdade absoluta, discussões e vários questionamentos ocorrerão, assim como teorias da origem do Universo.


Marcelo Bocian
Estudante de Gravura da EMPAP
bocian@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário