Não se pode chegar ao outro lado do rio sem antes navegar por sobre ele, muitas vezes o destino final torna-se apenas um Norte que conduz a expedição, possibilitando um ambiente de experiências diversas e muito pessoais em meio aos percursos.
Se o ponto de chegada de uma viagem é comungado por todos que “embarcaram” nela, não podemos exclamar o mesmo no que diz respeito aos caminhos escolhidos... Porém, há grupos que conseguem tomar um único barco para transcorrer também um único percurso, numa tentativa de percorrer sempre as melhores rotas. As escolhas têm então que ser tomadas em conjunto, todos opinam e a discussão poderá durar mais tempo do que o planejado, a viagem pode atrasar, porque cada um acredita que seu próprio caminho é o melhor. Do mesmo modo, as trocas de experiências permitem que a excursão seja um sucesso para os tripulantes, pois, vivenciar trajetórias diversas, aceitar e conhecer outras verdades valida a jornada como um processo de conhecimento, muitas vezes único.
A metáfora aqui serve para pensarmos na busca pelo entendimento de um dos conceitos mais múltiplos na contemporaneidade: as Artes. A busca pela resposta à pergunta “O que é arte?” nos leva à discussão de sua essência e validação no Mundo; no geral, a busca pela resposta sobre o que é a arte, na sociedade hoje, navega por águas cujas correntezas carregam diversos significados e possibilidades de explicação.
Se, de um lado, alguns validam a arte pela sua participação em um circuito oficial, pela presença das obras em Museus e pela sua existência concreta como objeto artístico, presente no Mundo, de outro, muitos dão total liberdade ao conceito para se efetivar sob qualquer estrutura – desde os clássicos meios de apresentação, como a pintura e escultura, passando pelo puro registro fotográfico, por projetos artísticos conceituais, até chegar à conclusão de que sua existência é possível em todo o espaço onde o homem (o único ser no Mundo sensibilizado para experiências estéticas) habita. Para a maioria, Arte e vida jamais podem desligar-se.
Neste embate de idéias e crenças, em um encontro sobre arte, onde as trocas de opinião são constantes e muitas vezes divergentes, as conclusões oficiais não são muitas. Discutir o objeto artístico, pensar no lugar ideal para a existência da obra, concluir quais formas de registro efetivamente tem valor artístico, imaginar que existem pessoas mais ou menos capazes de codificar o discurso artístico de um trabalho e validá-lo como parte da história das Artes, contestar a função da Arte dentro da sociedade e de seu constante potencial político. Instigar um grupo inteiro com questões como estas, durante um tempo talvez insuficiente para tal assunto, transforma a jornada, que tem o significado da Arte como margem diversas vezes almejada, em um emaranhado de conceitos e experiências pessoais, carregadas por olhares atentos.
Viagem feita por muitos e que carrega a evidente característica da era pós-moderna no universo das Artes: os questionamentos e a falta de certezas quanto às respostas alcançadas é que efetivam as manifestações artísticas hoje; elas se transformam em experiências significativas, justamente quando o indivíduo se permite experimentá-las e discuti-las junto a um grupo de interessados e curiosos. A Arte se faz nessa troca; na vivência ela se mostra como experiência comum, já que todos estão no mesmo “barco” transcorrendo as rotas em conjunto, e diversa, pois cada etapa decodifica-se de maneira única em suas particularidades.
A busca é constante e a viagem deve ser refeita, sempre com novas possibilidades de caminhos. Enriquecendo a bagagem, descobrimos novas ferramentas para a decodificação dos trabalhos que contemplam o Universo das Artes na contemporaneidade, assim, conseguiremos satisfazer nossos sentidos diante de qualquer experiência estética que venha a ser vivenciada. É, portanto, no processo de “viver arte” que acontece sua real possibilidade de existência no Mundo!
Débora Santos
estudante - Artes Visuais FAP
debora_smg@hotmail.com
estudante - Artes Visuais FAP
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