Hoje estamos mergulhados em excesso de informação ao mesmo tempo em que podemos desfrutar de tempos de liberdade produtiva e criativa. É fácil o acesso a obras, produções, pesquisas, críticas, estudos, contatos e conversas. Mas toda essa liberdade é uma combinação perigosa, criadouro de conformados e preguiçosos. Desnecessário levantar-se da cadeira. Desnecessário ir viver.
Após a última edição do LAB#, em setembro/outubro de 2011, resolvi trocar de ares e amadurecer diferentes áreas pessoais. Passei a ter mais contato com publicidade, literatura, comunicação e mesmo design, antes deixado de lado. A escrita, que já me acompanhava de uma forma ou outra, casou-se em definitivo com a ideia e passou a exigir de mim novas operações e processos. Esse novo posicionamento trouxe novas ânsias e vontades. A literatura transbordou. Livros enormes para ler. Contos curtos para construir.
O afastamento se fez necessário para amadurecimentos tanto pessoais quanto de estudos: cansei de uma autofagia de artistas só falando de arte, respirando arte, olhando arte, lendo arte, almoçando arte, tornando seu corpo arte.
Se supostamente buscamos cada vez mais relações com o mundo – busca herdada do contemporâneo –, insatisfeitos com produções de “arte pela arte”, contra uma esterilização estética, por que então só temos nos alimentado de arte e mais arte e mais arte? Se estamos nos tempos da cultura massificada, como o artista pretensiosamente tenta atingir a própria massa com obras autorreferentes e calcadas numa história (não só, mas principalmente) da vanguarda? Arte como piada interna.
Dos domingos no MAM/RJ já se vão 40 anos. Da bateria da Mangueira adentrando o mesmo MAM com parangolés são quase 50. E o máximo do que conseguimos para aproximar o povo de museus são as meias-entradas nos primeiros domingos do mês.
Culpa do povo ou culpa do artista? Pensamos muito, discutimos muito, mas nos alimentamos mal. Artista que só vive de sua arte e seus arredores e não se alimenta de cultura, massa, política, notícias, sociedade, termina por fazer a mesma arte de sempre, repetindo a si e aos outros. O artista de hoje repetindo o que já foi dito e esgotado. Desnecessário dizer.
Resolvi dar um tempo, com museus, críticas e teorias ocupando pouco ou quase nada dos meus afazeres, mas em compensação, procurando encontrar outras verdades e vidas lá fora. Novas relações de curadoria, arte, crítica, relacionamentos e, principalmente, pessoas se mostram possíveis, abrangendo multiversos igualmente tão infinitos quanto os da arte. Enriquecimento de repertório não se faz apenas dentro de museus ou patotas de artistas, mas dentro e fora do mundo. Resolvi fazer uma curadoria do que me alimento enquanto crítico, artista, filho, cidadão, consumidor.
Busco refúgio no afastamento para poder ver que o rei está nu.
Um comentário:
Tu é o cara! Falou e disse tudo! Esse realmente é o real motivo das obras de arte hoje serem chatas, essa autoreferência. O que sempre me pareceu foi isso mesmo, que alguns artistas não tem muita experiência de vida, ou por terem pouco repertório, ou simplesmente pelo fato de terem uma mixofobia que os impede de se misturar com outras pessoas ou grupos que tenham outros interesses. Vejo artistas se levando muito a sério, com uma certa pose que os distancia da convivência interpessoal. E ao meu ver, qualquer artista, de qualquer gênero, deve se interessar por pessoas. A partir da observação e convívio que nascem idéias interessantes. Senão resulta no que vemos por aí, muitas obras que discutem apenas uma piada interna pra quem estudou história da arte, ou obras vazias que tentam só extravazar o ego do sujeito.
Postar um comentário