Ser ou não ser, eis a questão

Quando recebo um convite de exposição, sempre fico tomada por um sentimento de ansiedade, uma vontade de saber de antemão o que encontrarei no cubo branco. E essa ansiedade me faz imaginar o que, a partir do histórico do artista ou curador, encontrarei. Mais ou menos como num jogo de adivinhação. Jogo este que se dá quando entramos no espaço expositivo e nos deparamos com algo extraordinário, e outras vezes nem tanto.

Construir um pensamento sobre arte, desenvolver um conceito, produzir uma reflexão estética, apresentar o processo do artista ou transformar um espaço de observação num espaço de convivência... Afinal, o que esperamos de uma exposição?
As exposições surgiram nos grandes palácios reais, mas são os salões que começam a aproximar tais exposições das mesmas que visitamos hoje. Nos grandes salões de outono as pessoas iam para se deleitar com as obras dos grandes mestres; hoje em dia, vamos esperando criar um sentido no que veremos lá, mas muitas vezes a proposta não tem sentido mesmo.

O que faz com que uma obra de arte seja arte é a própria história da arte, é ela que nos dá parâmetros para acreditar que aquele objeto, ou aquela proposta, seja considerado como tal. Seja por aproximação ou por afastamento nos baseamos na história para defini-la como arte. Mas queremos saber o que esperamos desta arte, e não o que a define, se podemos separar tais questões. As exposições são o meio para que a arte tenha contato com o mundo, com o público, mesmo que mediada pelo cubo branco – com sua neutralidade asséptica – este é o meio pelo qual grande parte dos artistas tem se utilizado para apresentar seus trabalhos para o mundo.

As exposições são geralmente organizadas por uma equipe, e possui um texto de apresentação e um trajeto a ser percorrido. Durante este caminho descobrimos se a escolha dos trabalhos teve critério afetivo, coerente ou até mesmo se foram escolhidos por sua aparência. Como num jogo de quebra-cabeça o responsável pela disposição das obras tenta montar a imagem projetada pelo artista. Apresentar suas questões sem distorcer, ou até mesmo, criar novos conceitos, desenvolvendo assim um pensamento crítico sobre aqueles trabalhos. E assim as obras são postas a julgamento, apreciação, depreciação, deleite e reflexão do público.

Ainda depois de percorrer uma exposição e de se fazer tais questionamentos, algumas propostas me tomam por uma incerteza se aquilo que acabei de ver é arte ou não, o que pede uma segunda visita para a compreensão das questões levantadas pelas obras, mas, mesmo que tal esforço tenha sido realizado, e uma instituição tenha aberto suas portas para que aquilo fosse exposto como arte, muitas delas não são arte mesmo.


Ana Rocha
Curadora e Produtora
anarocha@finnacena.com.br

Um comentário:

Unknown disse...

Arte autoreferencial é muito monótona. Se ela se dispor apenas a isso, a discutir a própria história da arte e não as questões contemporâneas, sociais ou do próprio artista, não precisariam ser exibidas em museus públicos (que a rigor são para o povo). Bastaria que fossem apresentadas no círculo da arte, que é quem se interessa e vê algo palpável nelas.
Abraço
Renato Calliari

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